sexta-feira, 3 de julho de 2009

(12.01.09) A última noite na Escócia.

Como não havia dormido, ainda era muito cedo quando abri a primeira mala e espalhei tudo no corredor para dobrar de novo e ver o que voltaria comigo para o Brasil e o que ficaria na Escócia.
Queria sair antes mesmo da Maura acordar, nem que fosse pra ficar perambulando pela cidade até as 6h da manhã.

Eram umas 11 horas quando a Tati me ligou convidando para almoçar, mas eu não queria deixar tudo espalhado daquele jeito.
Tomei um banho e ao sair do banheiro, encontrei a Maria me esperando e dizendo que havia escutado a briga de ontem. Ela estava magoada com tudo isso, e disse que não era a primeira vez que a Maura chegava naquele estado em casa.
Ela me abraçou e pediu para eu ficar no quarto dela até a hora do meu vôo, dizendo que queria passar as minhas últimas em Edinburgh de um jeito feliz... ela, o Daniel e eu. Completou ainda que, se eu quisesse, não precisava nem ir a cozinha pra não trombar com a Maura no meio do caminho...rs.
Achei bonitinho e decidi ficar. Ja estava fudida mesmo, o que é um peido pra quem ta cagado?

Fui almoçar com a Tati e o Júnior em um restaurante chinês perto da Princess Street para me despedir deles, mas voltei logo pra casa, antes que a Maura acordasse.

Infelizmente, não deu tempo! Quando eu voltei ela ja estava acordada e veio me chamar pra conversar.
- Desculpa Gianne. Eu estava bêbada ontem e você me interpretou mal.
- Maura, você é uma menina muito mimada e nervosinha, acha que é dona das pessoas e do mundo! Mas vou te contar uma coisa: eu era nervisinha e mimadinha assim no Brasil. Sou uma pessoa muito mais calma e pacífica aqui e não quero voltar a ser quem eu era nem quando for embora daqui. Mas sabe, não tenho medo de você e se for pra voltar a ser quem eu era pra te peitar, volto em menos de 5 segundos. Quer falar alto comigo? Vou mostrar que eu também sei gritar. Já não basta ter que pedir pra ficar aqui esses dias... mas agradeço, anyways.

Ficamos em silêncio. Eu agi assim com ela porque estava magoada ainda e percebi que eu a deixei chocada. Aquela minha imagem de menina boazinha se mostrou mutável pra ela e com um agravante: por ser um pouco assim no passado, eu sabia exatamente como pegar o ponto fraco dela, pois já precisei (e quis) ouvir isso de alguém um dia, mas nunca havia encontrado ninguém com coragem pra falar.
Ela pediu desculpas novamente, disse que queria a minha amizade e saiu. Ficou o resto do dia enclausurada no quarto dela, enquanto nós (e o Daniel) ficamo o dia todo no quarto da Maria.

Saí a noite para jantar com a Miriam num restaurante japonês que ela havia me convidado e voltamos pra casa.
Quando chegamos, a Maria e o Daniel nos aguardavam com várias garrafas de vinho, muitas músicas que tocam na Escócia e algumas histórias destes últimos 6 meses pra relembrar.

Sentada no chão, com as malas prontas na minha frente e uma taça de vinho, comecei a fazer uma retrospectiva silenciosa enquanto eles conversavam.
Faltavam apenas algumas horas pra tudo isso acabar! Tudo que construí em 6 meses...sozinha, pela primeira vez.
Eu olhava aqueles prédios cinzentos pela janela, a neve caindo, o frio lá de fora e sentia uma dor imensurável no meu peito.
Lembrei do meu primeiro dia na Escócia, o medo que senti ao chegar no aeroporto, minha família escocesa, meus amigos espanhóis indo embora depois das férias, meu primeiro trabalho, salário, o Mike...
Agora eu tenho uma vida aqui, tenho emprego, amigos.. eu posso arrumar até uma casa melhor!

Então, eu fui percebendo que havia feito a pior burrice da minha vida decidindo voltar!
Eu não sei mais viver sem essa liberdade! Eu não quero mais viver sem isso! Eu não quero voltar!!

Como um súbito, eu não consegui me conter.
Deixei as lagrimas escorrerem sem parar, na frente dos meus amigos, ao som de I still haven´t found what I´m looking for, do U2. Sim, a mesma música que tocou em todos momentos de decisões importantes que passei por aqui (coincidentemente ou não).
Pelo título, achei que desta vez foi "quase nada irônico".

O Daniel e a Maria tentavam me acalmar e falar coisas positivas, mas no fundo eles me entendiam. Um dia a hora deles também iria chegar - eles falavam - e acabavam chorando também. Eu não conseguia parar nem por um minuto.

Ficamos a madrugada inteira acordados até o taxi chegar.
Enquanto desciamos as escadas, eu só tentava não pensar no que estava acontecendo.

Olhava para cada canto da cidade como quisesse guardar aquelas imagens para sempre em minha memória, aquele cheiro, aquele frio, as pessoas.

Me senti totalmente apaixonada pela Escócia, pela Europa e por alguém que eu conheci lá: eu mesma! Aquela Gianne que se descobriu e que não queria se esconder mais, não queria mais voltar a ser o que era.

Chegando, comprei umas coisas pra comer e, como estava adiantada para fazer o check-in, voltei para fora do aeroporto e voltei a relembrar do dia em que desembarquei em solos escoceses...

... e chorei de novo.

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