Levantei, tomei um banho e fui encontrar o Brian e a indiana na cozinha do hostel para tomar café.
Logo de cara, ja me deparei com o canadense sorrindo, oferecendo paozinho tostado, assim como fez o ingles, me “doando” uma maravilhosa geleia de morango que so existe em Skye.
Tomamos café com calma e esperamos a van chegar.
Ja confortaveis, rumamos para a cume da ilha, passando por paisagens que eu nao conseguiria descrever com meras palavras.
Escutando musica medieval na van (o guia leu meus pensamentos), subiamos a estrada cada vez mais e mais, ate chegarmos no pico de Isle of Skye, onde meus olhos se enxeram de lagrima ao vir o pequeno paraiso escoces la de cima.
Como num filme de Tristao e Isolda, Coracao Valente, ou tantos outros que assisti na minha vida e sempre me identifiquei com as historias de guerra e amor, eu me sentia viva e presente nesta epoca, como se eu fizesse parte daquilo tudo ha muito ano. A unica coisa que me amparava e me trazia de volta a realidade eram os comentarios do Brian sobre as fotos que tiravamos.
Estavamos anestesiados entre as montanhas, cachoeiras, farois, ovelhas… nao nos desgrudavamos nem por um segundo. Por mais que o conhecesse ha poucas horas, nao sei dizer se foi o clima romantico das highlands ou o frio de congelar, mas cada vez que eu olhava pra ele, nos viamos abracados, juntos, um pouco mais perto do que ja estavamos desde o momento que nos vimos a primeira vez.
Ficamos passeando pela ilha ate anoitecer, e tirei muitas fotos, de dentro do onibus e durante nossas caminhadas. O que mais me impressionou foi a cachoreira e uma montanha no meio do oceano que mudaram tanto o meu dia que precisei ate filmar.
Nao vou descrever pq nao da, mas postarei o video no final.
Bom, chegando no hostel no fim da tarde, a Indiana nos convidou para jantar com o pessoal da excursao, mas eu e o Brian nao estavamos afim. Fomos ao supermercado, compramos uma pizza, um whisky “nacional” pra mim, uma garrafinha de vodka pra ele e voltamos pra “casa” onde, depois de um belo banho, comecamos nosso “happy hour” na companhia do neozelandes e do britanico engracado.
Em pouco tempo, todos ja estavam meio alegrinhos e falando demais, ate acontecer algo que me deixou muda enquanto conversava com o ingles: nao sei porque, mas hoje a tarde, sentido toda aquela sensacao de paz e de conhecimento ampliado, comecei a lembrar de tudo no Brasil que me trouxe essa sensacao ate hoje… entre elas, lembrei de momentos com meus amigos, outros com a minha familia, mas principalmente, lembrei de musicas e livros. Entre eles, estava um que considero muito especial e gostaria de ler de novo… quem sabe sentada ao pe de uma montanha como aquelas que vi hoje?!
So que, durante o papo com o ingles sobre como as viagens nos transformam, ele disse que estava lendo um livro que eu precisava ler, sobre uma menina que tinha um professor e… cortei ele no meio da explicacao. Por acaso, este livro se chama Shophie’s World?
Ele deu um pulo para tras e disse: “Nossa, como vc sabe?”
Eu? – respondi emocionada. “Eu nao sei de nada. So que pensei nesse livro o dia todo hoje e nao sei porque, mas agora isso simplesmente saiu”.
Fiquei chocada comigo mesma, com o momento estranho que tinha acabado de acontecer. Mas lembrei da Sofia, e assim com ela, agora tenho meu mundo.
Coincidencia ou nao, decidi que preciso, definitivamente, reler este livro quando voltar ao Brasil.
Ja era madrugada quando comecamos a nos preparar para dormir. Todos precisavam levantar cedo no dia seguinte e continuar a sua viagem, mas eu estava bebada e me sentindo tao livre que queria ver a noite do lado de fora, sentir a brisa do vento gelado da Escocia, um dos ultimos talvez, porque sei que tudo isso esta por terminar.
Avistei um barquinho de longe na “prainha” em frente ao hostel, peguei o restinho da minha garrafa de whisky, dei boa noite a todos e comecei a caminhar. Eis que o canadense vem atras de mim, puxando assunto ao sentarmos naquela pequena construcao de madeira que, na minha cabeca mega inventiva daquela hora, tinha servido de transporte e meio de sobrevivencia para muitos desbravadores da epoca medieval (rsrs).
- Porque esta aqui essa hora? – ele perguntou.
- Porque sou livre para estar.
- Posso ficar aqui com vc?
- Claro. Vc tbm eh livre para me acompanhar.
- Sabe, vc eh uma das pessoas mais diferentes e incriveis que eu ja conheci nessa viagem de 70 dias pela Europa. Senao, na minha vida. Gosto e admiro o do seu jeito.
- E eu gosto do seu.
- Sabe, eu tbm sou livre. Por isso estou viajando ha 70 dias…
- Legal. Mas quanto vc eh livre, canadense?
- Sou muito, brasileira.
- Eu sou tao livre que beijaria vc hoje so por vontade. Vc seria meu primeiro beijo nos mais de 120 dias de Europa.. ai, eu guardaria as lembrancas amanha so pra mim. (nem eu acreditei que disse isso!).
Ele pensou, pensou, pensou e disse:
- Mas eu nao posso, sou complicado.
- Ta certo, ta certo. Vc eh musico e eu tbm ja meio que fui, um dia. Sei que eh complicado!
Mas isso prova que vc nao eh livre. Ai esta minha teoria e minha comprovacao. Sou mais livre que vc! – sorri.
Claramente confuso, ele saiu (aparentemente pra fazer xixi), me deixando sozinha la por uns 5 minutos. Ainda bem, pq me engasguei feio com um gole de whisky que desceu errado e ate achei que fosse vomitar.
Ele voltou depois, sentou ao meu lado e disse:
- Voce tem razao, sabia?! Nao sou tao livre quanto achei que fosse. Mas posso aprender a ser com vc.
E como numa poesia, ele chegou mais perto de mansinho, passou a mao pelos meus cabelos, me abracou com toda delicadeza de um homem de verdade e me beijou longamente, ate quase perdemos o folego.
Com frio, acabamos voltando para a porta do hostel, onde ficamos sentados, abracados e nos beijando por quase 2 horas. Ele ficava repetindo o quanto nao acreditava como eu era madura para os meus “apenas 25 anos” e o quanto meu ponto de vista tinha confundido a cabeca “viajada” dele. Eu, em contrapartida, so pensava o quanto estava feliz e o quanto estava sendo sincera comigo mesma pontuando o fato de estar vivendo aquele momento sem pensar no amanha. Nao queria pensar, queria sentir.
Decidi ir para a cama, estava congelando com os -2 graus que fazia, apesar de ter alguem pra me aquecer depois de tantos meses. “Mas so por aquele momento”, pensei.
Ao me despedir dele com um beijo quase de partida, ele sussurrou: “Eu quis muito esse momento tbm, Gianne, desde que te vi em Edinburgh, mas tive medo. Eu preciso embarcar para o Canada na segunda-feira e ainda preciso voltar pra Londres pra pegar esse voo. Meus amigos estao me esperando pra conhecermos alguns lugares da Inglaterra ainda e agora eu nao sei o que fazer, porque quero ficar mais e …”.
- “Shhh… Obrigada pela noite maravilhosa, Brian. Amanha eh outro dia” – eu cortei a conversa, com um largo sorriso.
Beijei-o novamente, fechei a porta do meu quarto e capotei.
Beijos!
E nao eh que o Brian tirou a foto do barquinho no dia seguinte? hehehe. So descobri na quinta-feira, quando ele baixou as fotos no meu PC...
Videos:
Parte I (reparem no barulho do vento)
Parte II
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